quarta-feira, março 06, 2024

Saúde, Violência Sexual e Terrorismo

Ano 18, Número 146, Março de 2024 


André Medici

 

Alguns Conceitos Básicos

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)[i], a violência contra as mulheres – particularmente a violência sexual – é um grave problema de saúde pública e de saúde clínica, além de ser uma violação dos direitos humanos das mulheres. Está enraizada e perpetua as desigualdades de gênero.

As Nações Unidas definem violência contra as mulheres como “qualquer ato de violência baseada em gênero que resulte, ou possa resultar, em dano ou sofrimento físico, sexual ou mental para as mulheres, incluindo ameaças de tais atos, coerção ou privação arbitrária de liberdade, quer ocorra na vida pública ou na vida privada” e violência sexual como "qualquer ato sexual, tentativa de obtenção de ato sexual ou outro ato dirigido contra a sexualidade de uma pessoa por meio de coerção, por qualquer pessoa, independentemente de seu relacionamento com a vítima, em qualquer ambiente. Inclui estupro, definido como violência física forçada ou de outra forma coagida a penetração da vulva ou do ânus com um pênis, outra parte do corpo ou objeto."

 

A Violência Sexual, Ditaduras Islâmicas e Terrorismo

A relação entre violência sexual e ditaduras religiosas islâmicas é complexa, sendo importante abordar este tema com sensibilidade, de forma a evitar generalizações que possam perpetuar estereótipos negativos sobre o Islã e suas práticas.

Em algumas ditaduras religiosas islâmicas, especialmente aquelas que interpretam a lei islâmica de forma extremista e autoritária, há registros sistemáticos de abusos sexuais perpetrados contra mulheres e meninas. Esses abusos podem ocorrer em várias formas, incluindo estupro, casamento forçado, escravidão sexual e outras formas de coerção sexual. Uma das razões para isso pode ser a interpretação distorcida e seletiva da lei islâmica (a Sharia) por parte de regimes autoritários, que usam a religião como uma ferramenta de controle social e político. Isso pode levar à imposição de leis e práticas que discriminam as mulheres, negam seus direitos e as colocam em situações de vulnerabilidade à violência sexual.

Além disso, em contextos em que os direitos das mulheres são sistematicamente reprimidos, há frequentemente uma falta de recursos e apoio para as vítimas de violência sexual. Isso pode incluir a falta de acesso a serviços de saúde, justiça e apoio psicossocial.

O terrorismo islâmico, muitas vezes associado a grupos extremistas como o Estado Islâmico (EI), Al-Qaeda, Boko Haram e Hamas, tem sido associado a diversos crimes, incluindo a violência sexual. Existem várias maneiras pelas quais a violência sexual é usada como uma ferramenta pelo terrorismo islâmico:

 Escravidão Sexual e Tráfico de Mulheres: Grupos como o Estado Islâmico e o Boko Haram têm se envolvido em práticas de escravidão sexual, capturando mulheres e meninas de comunidades minoritárias ou de regiões onde exercem controle e as forçando a servir como escravas sexuais para seus combatentes.

Táticas de Terror e Humilhação: A violência sexual também é usada como uma tática de terror para desestabilizar comunidades e desafiar as normas sociais. Por exemplo, estupros em massa têm sido usados como forma de humilhação e subjugação de comunidades consideradas inimigas.

Recrutamento e Motivação: Alguns grupos terroristas têm usado a promessa de "recompensas" sexuais como uma tática de recrutamento, atraindo homens jovens com a promessa de esposas ou escravas sexuais como parte do "prêmio" por se juntarem ao grupo.

Controle de Populações: A violência sexual pode ser usada para controlar populações em áreas controladas por grupos terroristas, impondo medo e subjugação às comunidades locais.

É importante ressaltar que a violência sexual não é uma característica inerente ao Islã, mas sim um problema social que ocorre em diferentes contextos ao redor do mundo. Muitas comunidades muçulmanas, líderes religiosos e organizações estão trabalhando para combater a violência de gênero e promover uma interpretação mais igualitária e progressista da fé islâmica.

A Violência Sexual na Palestina e na Faixa de Gaza

A violência sexual, incluindo aquela praticada por homens contra suas esposas, mas também no relacionamento extraconjugal, é moeda corrente em regimes baseados em religião e terrorismo, como o que existe na Faixa de Gaza, sob a ditadura do Hamas. Segundo o escritório das Nações Unidas para mulheres na Palestina, os tipos mais comuns de violência contra as mulheres observados na região incluem violência doméstica, assédio sexual, casamento infantil, feminicídio ou outros assassinatos relacionadas questões de gênero.

Aproximadamente 15 por cento das mulheres casadas em Gaza sofreram incidentes de abuso sexual por parte dos maridos durante o ano anterior e mais da metade deles experimentou isso repetidamente (3 ou mais vezes). Cerca de 63 por cento dos homens na Palestina concordam que uma mulher deve tolerar a violência para manter a família unida. Grande parte desta violência sexual ocorre entre adolescentes, dado que 21% dos casamentos ocorrem entre mulheres menores de idade (18 ano), geralmente com homens mais velhos[ii].

Décadas de ocupação da Palestina pelo Hamas colocaram em risco a segurança econômica, a proteção e o acesso aos serviços de saúde para as mulheres na Palestina, as quais enfrentam frequente violência física e assédio sexual, que ocorre nas ruas, nos locais de trabalho, nas casas e nos campos de refugiados. Quase 1,9 milhões de mulheres na Palestina necessitam de serviços e intervenções relacionadas com a violência baseada no gênero das quais 65 por cento vivem em Gaza. As vítimas dessa violência de gênero sofrem com o acesso limitado à justiça devido ao sistema jurídico fraco, frágil e inativo.

Acabar com a violência sexual na Faixa de Gaza é praticamente impossível, enquanto estiver dominada por um grupo terrorista que mantém sua população sob ocupação militar. Leis desatualizadas e discriminatórias muitas vezes impedem os sobreviventes de violência de aceder a serviços sensíveis ao gênero e de obter justiça – um problema agravado pelo medo e pela desconfiança em relação a pessoas de fora[iii].

 

A violência de gênero praticada pelo Hamas durante a ação terrorista contra Israel

A invasão de Israel pelo grupo terrorista Hamas no dia 7 de outubro de 2023 foi um dos mais dramáticos episódios de violência sexual contra mulheres relatados nos últimos anos. Entre os dias 19 de janeiro e 14 de fevereiro de 2024, uma Missão do Secretariado Geral da ONU produziu um informe detalhado a respeito das atrocidades de violência sexual praticadas em Israel pelos terroristas do Hamas. Este informe, publicado no início de março deste ano, mostra dados que conferem a este atentado um nível inusitado de violência e atrocidade na história.

De acordo com este informe, incluindo vídeos divulgados e declarações de testemunhas oculares, múltiplos incidentes de violação sexual ocorreram no local do Festival Nova de Música durante os ataques do Hamas de 7 de Outubro e nas rotas de fuga dos participantes deste festival. Foram obtidas informações sobre vários incidentes em que mulheres foram vítimas de estupro e depois assassinadas. Existem outros relatos de indivíduos que testemunharam incidentes de estupro que ocorreram em cadáveres de mulheres. Os corpos de muitas das mulheres assassinadas foram encontrados nus da cintura para baixo e outros totalmente nus, com alguns tiros na cabeça e com as mãos amarradas atrás das costas, em árvores ou em postes[iv].

Vários relatos foram também coletados sobre a violência sexual praticada dos kibutz de Re’im, Be’eri, Kfar Aza e outras áreas. Embora o informe da ONU seja relutante em fazer juízos mais diretos, ele conclui, em suas páginas finais que:

No geral, com base na totalidade de informações recolhidas de múltiplos e independentes fontes nos diferentes locais, há motivos razoáveis para acreditar que a violência sexual ocorreu em vários locais da periferia de Gaza, inclusive na forma de estupro e estupro coletivo, durante os ataques de 7 de outubro de 2023. Informações circunstanciais confiáveis, indicativas de algumas formas de violência sexual, incluindo mutilação genital, também foram recolhidas, incluindo tortura sexualizada, ou tratamento cruel, desumano e degradante. No que diz respeito aos reféns, a equipe da missão encontrou informações claras e convincentes que alguns reféns levados para Gaza foram submetidos a diversas formas de violência sexual relacionada com o conflito e tem motivos razoáveis para acreditar que tal violência ainda pode estar em curso”.

Conclusões

A existência do Hamas é prejudicial para as mulheres, não apenas da Palestina, mas de toda a humanidade. Um recente pronunciamento da França nas Nações Unidas, relata como a violência sexual tem sido uma constante nas estratégias perpetuadas por grupos terroristas como o Hamas[v]. Este é um dos fatores que justifica a reação de Israel e a necessidade de eliminação do Hamas. Logicamente que todas as pessoas de bom senso querem o fim do conflito e da vitimização de civis por ele produzida, mas os números imaginários produzidos pelo Hamas de 30 mil palestinos mortos no conflito, muitas vezes repetidos pela imprensa sensacionalista ou por papagaios de governos inescrupulosos e ditaduras, não devem ser utilizados como meio de manter ativo este grupo terrorista.  

 

REFERÊNCIAS