Ano 8, No. 55, Abril 2014
André Medici
André Medici
Introdução
Bloomberg L.P. é um complexo de empresas de
comunicação, sediado em Nova York, que tem por objetivo oferecer instrumentos para análises dos mercado de ações, títulos financeiros e
valores, bases de dados sobre negócios e serviços correlatos, notícias e informações na mídia
eletrônica, via web ou cabo e revistas semanais. Suas principais publicações
são as revistas Bloomberg Businessweek e Bloomberg Markets. Foi fundado em 1981
por Michael Bloomberg e 30% de suas ações pertencem ao conglomerado financeiro
Merrill Lynch. É uma instituição respeitada por oferecer informações confiáveis
para investidores e para aqueles que vivem do dia a dia dos mercados
financeiros e de negócios.
Com o processo de globalização, Bloomberg tem cumprido o papel de informar aos
interessados sobre o ambiente de negócios existente nos Estados Unidos e em
distintos países, apoiando a tomada de decisões de investimento com informações
comparativas sobre o clima de negócios, a economia e a sociedade. Tais
informações são vistas pelos investidores como fatores que podem minimizar riscos e aumentar as sinergias para o retorno de seus investimentos.
Por este motivo, a Bloomberg divulga em um dos
seus websites a série visual data: the
best and the worst, que pesquisa vários temas que podem afetar o clima
de negócios, sendo, portanto, de interesse para investidores e para aqueles que
buscam oportunidades em países que oferecem melhores condições empresariais. Muitos
temas tem sido analisados em distintos países, destacando-se perda de confiança
dos investidores, uso de energia limpa, custos da justiça, preços dos imóveis
residenciais, preços de comunicações, salários pagos a professores, pragas que
contaminam a produção de alimentos, conectividade digital, desemprego juvenil,
divida pública como proporção do PIB, risco de estagflação, gastos e principais
destinos de turismo internacional, eficiência dos aeroportos, tendências da inflação,
dependencia do petróleo, crescimento na venda de veículos, velocidade do
processo de envelhecimento demográfico, disponibilidade de energia elétrica, tendências
dos sistemas de aposentadoria e pensões, dimensão do emprego assalariado e por
conta-própria, e muitos outros.
Na área de saúde, um dos temas que tem sido
pesquisado (a última atualização ocorreu em agosto de 2013), foi o de eficiência
da atenção à saúde. Os dados se baseiam em informações de 2011. A metodologia
consistiu em ordernar os países de acordo com o nível de eficiência em saúde, medido por 3 indicadores: (a) expectativa de Vida ao Nascer (o
mesmo utilizado pelo Índice de Desenvolvimeto Humano – IDH do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD); (b) o gasto anual em saúde como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e; (c) o gasto percapita anual
em saúde com a cobertura de atenção preventiva e curativa, planejamento
familiar, atividades nutrição e cuidados de emergência. O primeiro indicador
teria uma relação direta com a eficiência e os outros dois uma relação inversa.
Estes tres indicadores foram combinados em um índice, que varia de 0 a 100,
onde a esperança de vida tem peso de 60%, o gasto em saúde como proporção do
PIB tem um peso de 30% e o gasto absoluto percapita em saúde tem um peso de
10%.
Foram considerados para o ordenamento dos países, somente aqueles com população de pelo menos 5 milhões de habitantes e renda percapita anual mínima de US$ 5,000.00. Isto permitiu que participassem 48 países, onde está incluido o Brasil. Os dados podem ser visualizados na página web http://www.bloomberg.com/visual-data/best-and-worst/most-efficient-health-care-countries. As informações utilizadas vieram das bases de dados do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial de Saúde.
O índice de eficiência da saúde, neste sentido, seria
medido pelo que se pode alcançar em esperança de vida ao nascer (medida em
anos) com a atual porcentagem de gasto anual em saúde sobre o PIB, dada uma certa dimensão do
gasto anual absoluto em saúde.
Os Resultados do
Índice de Eficiência
Sem questionar estes resultados, podemos dizer
que, entre os 48 países analisados, os cinco mais eficientes, de acordo com os
critérios estabelecidos, foram Hong Kong, Singapura, Japão, Israel e Espanha
(nesta ordem) enquanto que os cinco mais ineficientes foram nesta ordem
Brasil, Sérvia, Estados Unidos, Iran e Turquia. A tabela 1 abaixo
mostra os resultados alcançados pela Bloomberg.
Tabela 1
Indice de Eficiência
de Atenção à Saúde da Bloomberg em Países Selecionados (Por volta de 2011)
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Índice de
Efciência
(Máximo 100 –
Mínimo 0)
|
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Índice de Efciência
(Máximo 100 –
Mínimo 0)
|
1
|
Hong
Kong
|
92,6
|
25
|
Holanda
|
48,5
|
2
|
Singapura
|
81,9
|
26
|
Venezuela
|
48,3
|
3
|
Japão
|
74,1
|
27
|
Portugal
|
47,2
|
4
|
Israel
|
68,7
|
28
|
Cuba
|
46,8
|
5
|
Espanha
|
68,3
|
29
|
Arábia
Saudita
|
46,0
|
6
|
Italia
|
66,1
|
30
|
Alemanha
|
45,5
|
7
|
Austrália
|
66,0
|
30
|
Grécia
|
45,5
|
8
|
Coréia
do Sul
|
65,1
|
32
|
Argentina
|
45,1
|
9
|
Suiça
|
63,1
|
33
|
Romenia
|
44,9
|
10
|
Suécia
|
62,6
|
34
|
Bélgica
|
44,5
|
11
|
Líbia
|
56,8
|
35
|
Perú
|
43,2
|
12
|
Emirados
Árabes
|
56,6
|
36
|
Eslováquia
|
41,1
|
13
|
Chile
|
56,2
|
37
|
China
|
38,3
|
14
|
Reino
Unido
|
55,7
|
38
|
Dinamarca
|
38,1
|
15
|
México
|
54,9
|
39
|
Hungria
|
38,1
|
16
|
Austria
|
54,4
|
40
|
Argélia
|
37,2
|
17
|
Canada
|
53,4
|
41
|
Bulgária
|
37,0
|
18
|
Malásia
|
52,8
|
42
|
Colombia
|
36,2
|
19
|
França
|
52,3
|
43
|
República
Dom.
|
35,3
|
20
|
Equador
|
51,7
|
44
|
Turquia
|
33,4
|
21
|
Polônia
|
50,6
|
45
|
Irã
|
31,5
|
22
|
Tailândia
|
50,2
|
46
|
Estados
Unidos
|
30,8
|
23
|
Finlândia
|
49,5
|
47
|
Servia
|
27,2
|
24
|
Rep,
Tcheca
|
48,9
|
48
|
Brasil
|
17,4
|
Fonte: Bloomberg L.P, http://www.bloomberg.com/visual-data/best-and-worst/most-efficient-health-care-countries.
Para exemplificar as comparações que podem ser
feitas, Hong Kong, com um gasto em saúde percapita pouco maior que o do Brasil
(US$1,409 x US$1,121) e um gasto em saúde como proporção do PIB quase 3 vezes
menor (3.8% x 9.9%) apresenta uma expectativa de vida ao nascer de 10 anos a
mais que a brasileira (83.4 anos x 73,4 anos).
Como tem apontado recentemente a literatura
internacional, vale notar que um americano médio, com um gasto de saúde de
17,2% do PIB, que chega a US$8,608 em termos percapita, tem uma esperança de
vida de 5 anos a menos que um residente de Hong Kong, o que demonstra um elevado
nível de ineficiência no gasto em saúde.
Decompondo o Índice de
Eficiência
O primeiro componente que deve ser analisado é
o de resultado, que no caso seria a esperança de vida ao nascer.
Tabela 2
Esperança de Vida
ao Nascer nos 48 Países onde se Avaliou o Índide de Eficiência de Atenção a
Saúde
(Dados de 2011)
(Dados de 2011)
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Esperança de Vida
ao Nascer
(em Anos)
|
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Esperança de Vida
ao Nascer
(em Anos)
|
1
|
Hong
Kong
|
83,4
|
25
|
República
Tcheca
|
77,9
|
2
|
Suiça
|
82,7
|
26
|
México
|
76,9
|
3
|
Japão
|
82,6
|
27
|
Polônia
|
76,7
|
4
|
Espanha
|
82,4
|
27
|
Emirados
Árabes
|
76,7
|
5
|
Italia
|
82,1
|
29
|
Eslováquia
|
76,0
|
6
|
Singapura
|
81,9
|
30
|
Argentina
|
75,8
|
7
|
Israel
|
81,8
|
31
|
Equador
|
75,6
|
7
|
Austrália
|
81,8
|
32
|
Libia
|
75,0
|
7
|
Suécia
|
81,8
|
33
|
Hungria
|
74,9
|
10
|
França
|
81,7
|
34
|
Sérvia
|
74,6
|
11
|
Holanda
|
81,2
|
35
|
Romenia
|
74,5
|
12
|
Austria
|
81,0
|
36
|
Malásia
|
74,3
|
13
|
Coréia
do Sul
|
80,9
|
36
|
Venezuela
|
74,3
|
13
|
Canadá
|
80,9
|
36
|
Bulgária
|
74,3
|
15
|
Reino
Unido
|
80,8
|
39
|
Arábia
Saudita
|
74,1
|
16
|
Portugal
|
80,7
|
40
|
Tailândia
|
74,1
|
16
|
Grecia
|
80,7
|
41
|
Perú
|
74,0
|
16
|
Alemanha
|
80,7
|
42
|
Turquía
|
73,9
|
19
|
Bélgica
|
80,5
|
43
|
Colombia
|
73,6
|
19
|
Finlândia
|
80,5
|
44
|
China
|
73,5
|
21
|
Dinamarca
|
79,8
|
45
|
Brasil
|
73,4
|
22
|
Cuba
|
79,1
|
45
|
Rep. Dominicana
|
73,4
|
23
|
Chile
|
79,0
|
47
|
Argelia
|
73,1
|
24
|
Estados
Unidos
|
78,6
|
48
|
Irã
|
73,0
|
Fonte:
Bloomberg L.P, http://www.bloomberg.com/visual-data/best-and-worst/most-efficient-health-care-countries
No que diz respeito a este indicador, o Brasil,
entre os 48 países, empata com a República Dominicana na 45ª posição, mas tem a
vantagem de estar melhor do que a Argélia e o Irã. Todos os outros países da
América Latina que entraram na análise - Cuba, Chile, México, Argentina,
Equador, Venezuela, Perú e Colombia – apresentam esperança de vida maior que a
brasileira, mas paradoxalmente, todos eles tem um gasto per-capita em saúde bem menor que o do Brasil, segundo os
dados da Bloomberg, como veremos nas tabelas 3 e 4.
Tabela 3
Gasto em Saúde como porcentagem do PIB nos 48 Países onde se Avaliou o Índide de Eficiência de
Atenção a Saúde
(Dados de 2011)
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Gasto em Saúde
como % do PIB
|
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Gasto em Saúde
como % do PIB
|
1
|
Estados
Unidos
|
17,2
|
25
|
Israel
|
7,8
|
2
|
Holanda
|
13,0
|
26
|
Argentina
|
7,7
|
2
|
Grecia
|
13,0
|
27
|
Bulgaria
|
7,5
|
4
|
França
|
12,5
|
28
|
Coréia
do Sul
|
7,2
|
5
|
Servia
|
12,0
|
29
|
Polônia
|
7,1
|
6
|
Dinamarca
|
11,8
|
30
|
Chile
|
7,0
|
7
|
Alemanha
|
11,7
|
31
|
Turquia
|
6,5
|
8
|
Suiça
|
11,5
|
32
|
México
|
6,4
|
9
|
Portugal
|
11,4
|
33
|
Romenia
|
6,3
|
9
|
Belgica
|
11,4
|
34
|
Equador
|
6,1
|
11
|
Cuba
|
11,3
|
35
|
Colombia
|
5,6
|
12
|
Austria
|
11,2
|
36
|
Rep. Dominicana
|
5,2
|
13
|
Canadá
|
10,8
|
37
|
Irã
|
5,1
|
14
|
Espanha
|
10,4
|
38
|
China
|
4,6
|
15
|
Italia
|
10,4
|
39
|
Singapura
|
4,4
|
16
|
Brasil
|
9,9
|
40
|
Perú
|
4,4
|
17
|
Suécia
|
9,6
|
41
|
Venezuela
|
4,3
|
18
|
Finlândia
|
9,4
|
42
|
Argelia
|
4,2
|
18
|
Reino
Unido
|
9,4
|
43
|
Emirados
Árabes
|
4,1
|
20
|
Eslováquia
|
9,1
|
44
|
Líbia
|
3,8
|
21
|
Austrália
|
8,9
|
45
|
Hong
Kong
|
3,8
|
22
|
Hungria
|
8,6
|
45
|
Tailândia
|
3,7
|
23
|
Japão
|
8,5
|
47
|
Arabia
Saudita
|
3,6
|
24
|
República
Tcheca
|
8,1
|
48
|
Malásia
|
3,3
|
Fonte:
Bloomberg L.P, http://www.bloomberg.com/visual-data/best-and-worst/most-efficient-health-care-countries
A tabela 3 mostra que o Brasil, dos 48 países
considerados no estudo do Bloomberg, é o 16º com gasto mais elevado em saúde
como proporção do PIB, alcançando quase 10%. Com exceção de Cuba, é o país que
apresenta a maior proporção de gasto percapita em saúde entre os
latino-americanos. A participação do gasto em saúde no PIB brasileiro é maior
que a de países que reconhecidamente tem os sistemas de saúde de melhor
qualidade, como Suécia, Finlândia, Reino Unido e Austrália. Em que pese o fato
de que o gasto em saúde no Brasil vem aumentando rapidamente nos últimos anos, existem
alguns problemas já levantados em outras matérias deste blog, que são a baixa
participação do gasto público no gasto total em saúde e a elevada participação
do gasto direto das famílias. Mesmo assim, entre 2001 e 2011, a participação do
gasto público em saúde no Brasil como proporção do PIB aumentou de 3,1% para 4,1%, de acordo com
informações também levantadas pela Bloomberg L.P.
Tabela 4
Gastos Per-capita em Saúde nos 48 Países onde se Avaliou o Índide de Eficiência de
Atenção a Saúde
(Dados de 2011)
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Gasto Percapita em
Saúde (em US$ correntes)
|
Posição ou Ranking
(do mais ao menos
eficiente)
|
País
|
Gasto Percapita em
Saúde (em US$ correntes)
|
1
|
Suiça
|
9.121
|
25
|
Hong
Kong
|
1.409
|
2
|
Estados
Unidos
|
8.608
|
26
|
Brasil
|
1.121
|
2
|
Dinamarca
|
6.648
|
27
|
Hungria
|
1.085
|
4
|
Holanda
|
5.995
|
28
|
Chile
|
1.075
|
5
|
Austrália
|
5.939
|
29
|
Polônia
|
899
|
6
|
Canadá
|
5.630
|
30
|
Argentina
|
892
|
7
|
Suécia
|
5.331
|
31
|
Arábia
Saudita
|
758
|
8
|
Austria
|
5.280
|
32
|
Turquia
|
696
|
9
|
Bélgica
|
4.962
|
33
|
Sérvia
|
622
|
10
|
França
|
4.952
|
34
|
México
|
620
|
11
|
Alemanha
|
4.875
|
35
|
Cuba
|
606
|
12
|
Finlândia
|
4.325
|
36
|
Venezuela
|
555
|
13
|
Japão
|
3.958
|
37
|
Bulgária
|
522
|
14
|
Reino
Unido
|
3.609
|
38
|
Romenia
|
500
|
15
|
Italia
|
3.436
|
39
|
Colômbia
|
422
|
16
|
Espanha
|
3.027
|
40
|
Libia
|
398
|
17
|
Grécia
|
2.864
|
41
|
Irã
|
346
|
18
|
Israel
|
2.426
|
42
|
Malásia
|
346
|
19
|
Portugal
|
2.311
|
43
|
Equador
|
332
|
20
|
Singapura
|
2.286
|
44
|
Rep.
Dominicana
|
296
|
21
|
Emirados
Arabes
|
1.640
|
45
|
Perú
|
289
|
22
|
Coréia
do Sul
|
1.616
|
46
|
China
|
278
|
23
|
Eslováquia
|
1.534
|
47
|
Argélia
|
225
|
24
|
Rep. Tcheca
|
1.507
|
48
|
Tailândia
|
202
|
Fonte:
Bloomberg L.P, http://www.bloomberg.com/visual-data/best-and-worst/most-efficient-health-care-countries
No que se refere ao gasto absoluto per-capita
com saúde, o Brasil apresenta a 26ª posição entre os 48 países
considerados, tendo o maior gasto per-cápita entre o conjunto dos países latino-americanos
selecionados e também gastos superiores a vários países do leste europeu como
Hungria, Polônia, Sérvia, Bulgária e Romenia.
Os resultados do Indice de Eficiência e seus
componentes, permitem demonstrar, portanto, que o Brasil, não é um dos países
que gasta menos em saúde, tanto do ponto de vista do gasto per-capita, como do
gasto de saúde como proporção do PIB. Mas sua esperança de vida ao
nascer é uma das mais baixas entre os 48 países selecionados pelo Índice da
Bloomberg. Os dois gráficos abaixo permitem demonstrar que países como o Brasil
e os Estados Unidos estão sempre dentro do que poderia ser chamado de zona de
ineficiência dos resultados em saúde com relação ao gasto, ocorrendo o inverso
com países como Hong Kong e Singapura.
A zona de eficiência seria aquela aonde a
esperança de vida tende a ser proporcionalmente maior ao volume do gasto, em
relação a uma curva que ajusta a média dos gastos em saúde de todos os 48 países.
Isto fica ilustrado nos dois gráficos da seguinte forma: os pontos que
representam os países que estão acima da curva de ajuste, estariam na zona de
eficiência dos respectivos gráficos, ocorrendo o inverso com aqueles que se
situam abaixo da curva.
Algumas Considerações
sobre a Metodologia e os Resultados do Índice de Eficiência
Embora o Indicador de Esperança de Vida ao
Nascer possa sintetizar a trajetória da probabilidade de morrer de uma determinada
população ao longo do ciclo de vida, ele poderia não ser o melhor indicador de eficiência para a análise
de sistemas de saúde. A esperança de vida saudável, que calcula os anos de vida
perdidos pela mortalidade (os chamados YLLs na metodologia de cálculo dos
DALYs) mas também pela morbilidade (os YDLs, de acordo com a mesma metodologia)
seriam mais representativos porque abarcariam todas as dimensões do que pode
resolver um sistema de saúde.
Ao mesmo tempo, indicadores como gastos de saúde
em relação ao PIB ou o gasto per-capita em saúde, refletem custos e
complexidades culturais e organizacionais dos sistemas de saúde que representam formas de relacionamento entre todos os atores envolvidos direta ou indiretamente na produção de
bens e serviços de saúde. Portanto, nem sempre os dados refletem uma medida
comparável de eficiência dos sistemas de saúde nos países, mas também indicam quanto a
população ou o governo estariam dispostos a pagar ou a financiar para o funcionamento destes sistemas.
Mas mesmo que se tenha que considerar de forma
relativa a metodologia utilizada, é inegável que os dados mostram que países
como o Brasil e os Estados Unidos, por motivos diversos, se encontram abaixo da
linha de eficiência do seu gasto em saúde e isto não é uma novidade. Nos
Estados Unidos, é necessário incluir mais pessoas ao sistema com custos menores
e isso se pode corrigir através das novas regulações que vem sendo
implementadas pelo Plano Obama.
No caso do Brasil, as ineficiências estão na
forma como se regula e se administra o gasto público e na falta de uma
articulação eficiente entre o SUS e os planos de saúde. Um gasto eficiente do
SUS poderia reduzir a elevada proporção dos gastos em saúde das famílias e
incluir aqueles que ainda não colhem os frutos dos 25 anos de existência do SUS,
como é o caso dos órfãos do Programa de
Saúde da Família. Uma melhor integração entre o SUS e os planos de saúde
permitiria minimizar as ineficiências e dar opções para aqueles que não encontram uma atenção
adequada, fazendo com que o setor público também venha a ter flexibilidade e
condições para aumentar sua competitividade e eficiência na busca da preferência
pelos cidadãos.