Ano 15, No. 120, Junho de 2021
Andre Medici
Por que ocorrem mutações e variantes no
Covid-19?
Variantes de vírus do tipo RNA, como é o caso
do Coronavírus estão associadas a mutações nos genes que o compõe, dado que a
natureza deste tipo de vírus, quando encontra um ambiente favorável à
reprodução, é evoluir e mudar gradualmente de acordo com as condições existentes,
especialmente quando ocorrem separações geográficas entre as novas regiões para
onde o vírus foi e as regiões de origem do vírus. Essas mutações podem afetar a
natureza do processo de imunização. Por exemplo, mutações nos vírus da influenza,
que também é do tipo RNA, levam à necessidade de produzir, a cada ano, uma vacina
que seja eficaz para os diversos vírus gripais que estão ocorrendo naquele ano.
A melhor forma de evitar que haja novas
variantes do Coronavírus é impedir a sua propagação, o que pode ocorrer de duas
formas:
(a) através de processos que evitem
o contágio e a disseminação rápida do vírus pelo contacto interpessoal sem
proteção ou barreiras, como máscaras, lavagem constante de mãos e
distanciamento social, ou;
(b) através de processos de
imunização, que permitem interromper a transmissibilidade do vírus em
determinada região quando se atinge um nível de imunidade, marcado por uma cobertura
de pessoas totalmente vacinadas entre 70% a 85% da população (isto é, com duas
doses após 15 dias da segunda dose, no caso da maioria das vacinas existentes)[i].
Se nenhum desses processos ocorrem, o vírus
continuará a se propagar e as mutações geradoras de novas variantes, muitas vezes
mais resistentes ou de mais fácil transmissão, são apenas uma resultante da
adaptação do vírus aos novos ambientes num contexto de alta transmissibilidade.
Segundo o Dr. Paul Rothman, decano da Faculdade
de Medicina da Universidade Johns Hopkins[ii],
novas variantes do Covid-19 (ou SARS-CoV-2) são detectadas todas as semanas e a
maioria não se desenvolve. Algumas persistem, mas não se tornam comuns. Outras passam
a ser frequentes por algum tempo e desaparecem, e outras, mais persistentes,
ficam por mais tempo. Até março de 2020 já haviam sido registradas mais de mil
variantes do Covid-19, mas nenhuma delas tem sido, até o momento,
suficientemente marcante para levar a mudanças nas estratégias utilizadas para
a prevenção ou tratamento dos casos leves e até mesmo graves de Covid-19.
Quanto aos efeitos das mutações, algumas levam o vírus a se disseminar mais rápido de pessoa, resultando em
mais infecções e, consequentemente, em mais mortes. No caso do Reino Unido, por
exemplo, a variante que surgiu ao final de 2020 está associada a uma maior
severidade dos casos. Outras variantes podem reduzir a
eficácia das vacinas existentes, levando a necessidade de mudanças
na composição das vacinas, o que pode ser um processo demorado e custoso. Isso
revela a importância de aumentar os testes e estudos de sequenciamento genético
dos vírus encontrados nas populações contaminadas para acompanhar o surgimento
das variantes, avaliar seus efeitos e conter a sua disseminação.
Tipos de Variantes do SARS-CoV-2
A primeira variante do Covid-19 que despertou a atenção dos sistemas de saúde, foi detectada no sudeste do Reino Unido
em setembro de 2020. Essa variante, agora conhecida como B.1.1.7, rapidamente
se tornou a versão mais comum do coronavírus naquele e em outros países, sendo responsável
por cerca de 60% dos novos casos de Covid-19 no Reino Unido em dezembro de 2020. Ainda hoje, é a forma predominante do coronavírus em alguns países. Diferentes variantes surgiram
na África do Sul, Brasil, Califórnia e, mas recentemente, Índia. No caso da
África do Sul, a nova variante pode ter a capacidade de reinfectar pessoas que
se recuperaram de versões anteriores do coronavírus. Também pode ser mais resistente
a algumas das vacinas aplicadas em distintos países.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras instituições, como os Centers for Diseases Control and
Prevention (CDC) dos Estados Unidos, classificam as variantes genéticas de um
vírus de três formas: (i) variantes de interesse; (ii) variantes de
preocupação e; (iii) variantes de alta consequência[iii].
As variantes de interesse são aquelas que
podem (mas ainda sem comprovação) estar associadas a impactos em diagnósticos, tratamentos ou eficácia das vacinas, interferência
nos teste de diagnóstico, susceptibilidade diminuída em uma ou
mais classes de terapias utilizadas para o tratamento, redução significativa da
neutralização por anticorpos, gerados durante a infecção anterior ou por processos de vacinação, redução
da proteção induzida por vacina contra casos graves da doença, maior
transmissibilidade e aumento da gravidade da doença.
As variantes de alerta são aquelas aonde
há evidência de aumento da transmissibilidade, geração de doença
mais grave (por exemplo, aumento de hospitalizações ou mortes), redução
significativa da neutralização por anticorpos gerados durante infecção ou
vacinação anterior, redução na eficácia dos tratamentos ou das vacinas e falhas
de detecção dos diagnósticos. Elas requerem uma ou mais ações de saúde pública e esforços
locais ou regionais para controlar a disseminação, aumento de testes ou
pesquisas para determinar a eficácia das vacinas e até mesmo tratamentos específicos
para neutralizar a variante. Com base nas características de cada variante,
considerações adicionais podem incluir o desenvolvimento de novos diagnósticos
ou a modificação de vacinas, tratamentos ou terapias.
As variantes de alta consequência são
aquelas onde há registros comprobatórios e sistematizados de que houve uma grande redução na eficácia na imunização, prevenção ou tratamento das sequelas do Covid-19 trazidas por variantes do Coronavírus. Elas podem estar associadas a falhas
demonstradas de diagnóstico, evidências de redução significativa na eficácia das
vacinas, número desproporcionalmente alto de casos graves em pessoas que foram vacinadas, suscetibilidade significativamente reduzida
às terapêuticas existentes e considerável aumento de hospitalizações.
Uma variante de alta consequência exigiria notificação à OMS, de acordo com o
Regulamento Sanitário Internacional e o anúncio, por parte dos governos, de
estratégias para prevenir ou conter a transmissão, além de recomendações e
ações concretas para atualizar tratamentos e vacinas.
Até o presente momento ainda não foram
registradas variantes para a SAR-CoV2 que possam ser classificadas como de alta
consequência, mas existem alguns casos de variantes de interesse e de variantes
de alerta, como pode ser visto na tabela 1, que lista as principais variantes do
Covid-19 registradas até junho de 2021.
Tabela 1 – Principais variantes do
SAR-CoV2 identificadas até junho de 2021
Quando
Apareceu |
Código-Classificação |
Aonde
Apareceu |
Efeitos |
Mar, 2020 |
B.1.525 ou
Variante Eta (Interesse) |
Múltiplos
Países |
Redução potencial na neutralização por tratamentos
com anticorpos monoclonais; Redução potencial na neutralização por soros
convalescentes e pós-vacinação. |
Abr, 2020 |
P.2 ou Variante Zeta (Interesse) |
Brasil |
Redução potencial
na neutralização por alguns tratamentos com anticorpos monoclonais; Neutralização
reduzida por soros pós-vacinação. |
Mai, 2020 |
B.1.351 ou
Variante Beta (Alerta) |
África do Sul |
Transmissão aumentada em cerca de 50%; Suscetibilidade
significativamente reduzida à combinação de tratamento com bamlanivimabe e
etesevimabe monoclonal, mas outros tratamentos com anticorpos monoclonais
estão disponíveis; Neutralização reduzida por soros convalescentes e
pós-vacinação; |
Set, 2020 |
B.1.1.7 ou Variante Alfa (Alerta) |
Reino Unido |
Transmissão
aumentada em cerca de 50%; Potencial gravidade aumentada com base em
hospitalizações e taxas de letalidade; Nenhum impacto na
suscetibilidade aos tratamentos com anticorpos monoclonais; Impacto mínimo na
neutralização por soros convalescentes e pós-vacinação; |
Out, 2020 |
B.1.526.1 (Interesse) |
Nova York, EUA |
Redução potencial na neutralização por alguns
tratamentos com anticorpos monoclonais; Redução potencial na neutralização
por soros convalescentes e pós-vacinação; |
Out, 2020 |
B.1.617.2 ou Variante Delta (Alerta) |
Índia |
Transmissibilidade
aumentada; Redução potencial na neutralização por alguns tratamentos com
anticorpos monoclonais; Redução potencial na neutralização pelo soro
pós-vacinação. |
Out, 2020 |
B.1617.3 (Interesse) |
Índia |
Redução potencial na neutralização por alguns
tratamentos com anticorpos monoclonais; Neutralização reduzida por soros
pós-vacinação. |
Nov, 2020 |
B.1.526 ou Variante Iota (Interesse) |
Nova York, EUA |
Suscetibilidade
reduzida à combinação de tratamento com bamlanivimabe e etesevimabe
monoclonal. No entanto, as implicações clínicas disso não são conhecidas.
Estão disponíveis tratamentos alternativos com anticorpos monoclonais. Neutralização
reduzida por soros convalescentes e pós-vacinação |
Nov, 2020 |
P.1 ou Variante
Gama (Alerta) |
Manaus, Brasil |
Suscetibilidade significativamente reduzida à
combinação de tratamento com bamlanivimabe e etesevimabe monoclonal, mas
outros tratamentos com anticorpos monoclonais estão disponíveis; Neutralização reduzida por soros convalescentes e
pós-vacinação. |
Dez, 2020 |
B.1.525 (Interesse) |
Reino Unido e Nigéria |
Redução potencial
na neutralização por tratamentos com anticorpos monoclonais; Redução
potencial na neutralização por soros convalescentes e pós-vacinação. |
Abr 2021 |
B.1.617.1 ou
Variante Kappa (Interesse) |
Índia |
Redução potencial na capacidade de neutralização por
alguns tratamentos com anticorpos monoclonais; Redução potencial na
neutralização por soros pós-vacinação. |
Jan, 2021 |
P.3 ou Variante Theta (Interesse) |
Filipinas |
Redução potencial
na capacidade de neutralização por alguns tratamentos com anticorpos
monoclonais; Redução potencial na neutralização por soros convalescentes e
pós-vacinação. |
Fev, 2021 |
B.1.617 (Interesse) |
Índia |
Redução potencial na capacidade de neutralização por
alguns tratamentos com anticorpos monoclonais; Neutralização reduzida por
soros pós-vacinação. |
Mar, 2021 |
B.1.427 ou Variante Épsilon (Alerta) (*) |
California, EUA |
Transmissão
aumentada em cerca de 20%; Diminuição modesta da suscetibilidade à combinação
de bamlanivimabe e etesevimabe; no entanto, as implicações clínicas dessa
diminuição não são conhecidas. Estão disponíveis tratamentos alternativos com
anticorpos monoclonais; Neutralização reduzida por soros de convalescença e
pós-vacinação; |
Mar, 2021 |
B.1.429, também
identificada como variante Épsilon (Alerta) (*) |
California, EUA |
Transmissão aumentada em cerca de 20%; Suscetibilidade
reduzida à combinação de bamlanivimabe e etesevimabe; no entanto, as
implicações clínicas dessa diminuição não são conhecidas. Estão disponíveis
tratamentos alternativos com anticorpos monoclonais; Neutralização reduzida por soros de convalescença e
pós-vacinação. |
Abr 2021 |
B.1.617.1 ou Variante Kappa (Interesse) |
Índia |
Redução potencial
na capacidade de neutralização por alguns tratamentos com anticorpos
monoclonais; Redução potencial na neutralização por soros pós-vacinação. |
Abr 2021 |
B.1.1.28.2 P2 (Interesse) |
Índia |
Maior risco de pneumonia e perda de peso, infectando
os órgãos respiratórios, incluindo os pulmões. |
Jun 2021 |
C.37 ou Variante Lambda (interesse) |
Peru |
Redução potencial
na capacidade de neutralização por alguns tratamentos com anticorpos monoclonais;
Redução potencial na neutralização por soros pós-vacinação. |
Fonte: Elaboração do autor com base em dados do CDC e
da Organização Mundial da Saúde (OMS). (*) Variáveis consideradas de interesse
para a OMS, mas de alerta para o CDC.
Até o presente momento, apenas quatro mutações no Coronavirus foram
classificadas pela OMS como “variantes de alerta”. São elas B.1.1.7 (Reino
Unido)[iv],
B.1.351 (África do Sul), P.1 (Brasil) e B.1.617.2 (Índia). O CDC dos Estados
Unidos considera que as duas variantes californianas (B.1.427 e B.1.429) devem
ser classificadas como variantes de alerta para efeitos das providências de
saúde pública a serem tomadas nos Estados Unidos.
A quantificação das variantes nos distintos
países
Não existe até agora uma contagem de qual a
proporção dos casos associados a variantes sobre o total de casos de Covid-19 existentes
em cada país. A OMS, em seu boletim epidemiológico de 22 de junho de 2021[v],
contabilizava a situação das variantes de alerta, destacando que a variante
alfa (B.1.1.7) era a que apresentava maior frequência, estando presente em 170
países. Em seguida, estaria a variável Beta (B.1.351) que estaria presente em
119 países. As variantes mais recentes, como a Delta (B.1617.2) e a Gama (P.1)
estariam presentes em 85 e 71 países, respectivamente.
Cerca de 33 países registraram a presença das 4
variantes de alerta consideradas pela OMS. Na América Latina estes países são
Argentina, Brasil e México. Mesmo assim, a OMS ressalta a necessidade de tomar
estes dados com cautela, dado que muitos países não detêm os mecanismos de sequenciação genômica que permitam identificar quais são as
variantes dominantes nos casos de Covid-19.
Poucos países conseguem calcular o impacto
destas variantes no total de casos e mortes por coronavirus, mas alguns dos que detém
melhores sistemas de registro e avaliação de casos, bem como processos de
amostragem e testagem por sequenciação genética, permitem fornecer alguma estimativa de impacto.
No caso dos Estados Unidos, por exemplo, o CDC criou o Programa Nacional de Vigilância Genômica para identificar novas e emergentes variantes
do SARS-CoV-2 e, desta forma, estimar quais as implicações para os
diagnósticos, tratamentos e vacinas do Covid-19 que seriam autorizados para uso
no país. O monitoramento da disseminação de variantes emergentes se
baseia em processos de sequenciamento rápido e generalizado, através da contratação
de laboratórios de diagnóstico privados, conjuntamente com uma parceria com a associação
de laboratórios públicos norte-americana (APHL). A colaboração do CDC com os laboratórios
permitiu estabelecer um sistema de vigilância de base populacional que produz
dados sistemáticos sobre o sequenciamento genético das variantes de Covid-19 no
país.
Com base nesses dados, sequências com
alterações genéticas semelhantes associadas a eventos epidemiológicos e
biológicos importantes são agrupadas em linhagens. Uma linhagem viral é um
grupo de vírus definido por uma variante fundadora e seus descendentes. A
proporção de linhagens que circulam nos Estados Unidos é rastreada e
caracterizada para determinar se são consideradas variantes de alta
consequência, variantes de alerta ou variantes de interesse. Esses dados,
juntamente com dados de muitas outras fontes, são usados para informar as
ações de saúde pública nacionais e estaduais relacionadas às variantes.
Como demonstra o gráfico 1, 60,3% dos novos casos de Covid-19 nos Estados Unidos entre maio e junho de 2021 estavam associados a variante Alfa (P.1.1.7), seguidos de casos da variante Gama P.1 (11,2%), das variantes Delta B.1.617.2 (9,5%), e Iota B.526 (9,3%), sendo as demais variantes menos significativas
Fonte: CDC (Junho 2021)A falta de informação sistemática impede que se
tenha uma resposta definitiva sobre esta pergunta. No entanto, vale a pena fazer
algumas digressões com base no que tem sido divulgado em termos de estudos e
análises em distintos países. Pode-se dizer que, em geral, as vacinas existentes
protegem os indivíduos contra o Covid-19 em quatro circunstâncias: (i) doença
grave; (ii) doença sintomática (ou casos leves); (iii) infecção, e (iv)
infecção assintomática. Mas quando há variantes, os níveis de proteção podem
ser menores e a OMS avalia ainda um quinto elemento que é o impacto de cada
variante na neutralização do processo de vacinação completa.
As evidências coletadas até o momento mostram
que, em geral, as vacinas existentes para o Covid-19 tendem a ser mais eficazes
contra casos mais graves, como morte, do que contra casos leves e infecções
assintomáticas. Ainda que os dados sejam incompletos, o último boletim da OMS
(22 de junho de 2021) permite realizar as seguintes análises por vacina, considerando as variantes de alerta.
Pfizer-BioNTech-Comirnaty – A tabela 2 mostra que embora ainda
existam áreas aonde não há suficiente evidência, a vacina da Pfizer parece
liderar o ranking de eficiência contra as novas variantes, como pode ser visto
na tabela abaixo, baseada em informações classificadas pela OMS em estudos
desenvolvidos em vários países.
Variante Alfa (B.1.1.7) |
Variante Beta (B.1.351) |
Variante Gama (P.1) |
Variante Delta (B.617.2) |
|
Doença Grave |
Nenhuma ou mínima |
Nenhuma ou mínima |
- |
Nenhuma ou mínima |
Doença Leve |
Nenhuma ou mínima |
- |
Nenhuma ou mínima |
Nenhuma ou mínima |
Infecção Sintomática |
Nenhuma ou mínima |
Moderada |
Nenhuma ou mínima |
Nenhuma ou mínima |
Infecção Assintomática |
Nenhuma ou mínima |
- |
- |
Mínima ou moderada. |
Impacto na neutralização da vacinação completa |
Nenhuma ou mínima |
Mínima a substancial |
Mínima ou moderada |
Mínima ou moderada |
Fonte: OMS, junho de 2021. As áreas em branco correspondem a células sem
informação ou sem suficiente evidência
Moderna- mRNA- 1273 – A tabela 3 mostra que não há informação ou a informação existente é insuficiente para avaliar a resposta da vacina Moderna em todas as variantes, mas em relação a proteção para o contágio de uma nova infecção pelas novas variantes, o nível de eficácia é similar ao da Pfizer em relação às variantes Alfa, Beta e Gama.
Tabela 3 – Perda de eficiência da Vacina da Moderna em cada uma das variantes de Alerta segundo o Tipo de Agravo da Covid-19
Tipo de Agravo |
Variante Alfa (B.1.1.7) |
Variante Beta (B.1.351) |
Variante Gama (P.1) |
Variante Delta (B.617.2) |
||||
Doença Grave |
- |
- |
- |
- |
||||
Doença Leve |
- |
- |
Nenhuma ou mínima |
- |
||||
Infecção Sintomática |
- |
- |
- |
- |
||||
Infecção Assintomática |
- |
- |
- |
- |
||||
Impacto na
neutralização da vacinação completa |
Nenhuma ou mínima |
Mínima a substancial |
Mínima a moderada |
- |
||||
AstraZeneca-Vaxzevria: A tabela 4 mostra que a vacina da
AstraZeneca ainda tem muitas lacunas no processo de avaliação, mas parece ter
bons impactos no que se refere a evitar doença grave na Variante Delta, tendo
também pouca perda de eficiência nas variantes Alfa e Gama. Os dados em relação
ao impacto na neutralização da vacinação completa mostram que a AstraZeneca
protege os indivíduos vacinados mais em relação à Variante Alfa do que as
variantes Beta e Gama, embora o impacto seja elevado no que se refere a Variante
Delta, com perdas substanciais de efetividade
Tabela 4 – Perda de eficiência da
Vacina da AstraZeneca em cada uma das variantes de Alerta segundo o Tipo de
Agravo da Covid-19
Tipo de Agravo |
Variante Alfa (B.1.1.7) |
Variante Beta(B.1.351) |
Variante Gama (P.1) |
Variante Delta (B.617.2) |
||||
Doença Grave |
- |
- |
- |
Nenhuma ou mínima |
||||
Doença Leve |
Nenhuma ou mínima |
- |
Nenhuma ou mínima |
Moderada |
||||
Infecção Sintomática |
- |
- |
- |
Nenhuma ou mínima |
||||
Infecção Assintomática |
Moderada ou
substancial |
- |
- |
- |
||||
Impacto na
neutralização da vacinação completa |
Mínima ou moderada |
Mínima a substancial |
Nenhuma ou mínima |
Substancial (uma dose) |
||||
Sinovac-Coronavac: No caso da Coronavac (Tabela 5), há escassa
avaliação do impacto das variantes, segundo os dados da OMS, sendo que somente
há mais informação relacionada a Variante Gama, com origem no Brasil, mostrando
nenhum ou mínimo impacto. Com relação ao impacto das variantes na neutralização,
a Coronavac parece dar boa resposta nos casos das variantes Alfa, Beta e Gama,
mas não há ainda nenhuma avaliação relacionada ao impacto da variante delta,
que parece estar crescendo no país recentemente.
Tabela 5 – Perda de eficiência da Vacina da Coronavac em cada uma das variantes de Alerta segundo o Tipo de Agravo da Covid-19
Tipo de Agravo |
Variante Alfa (B.1.1.7) |
Variante Beta (B.1.351) |
Variante Gama (P.1) |
Variante Delta (B.617.2) |
||||
Doença Grave |
- |
- |
- |
- |
||||
Doença Leve |
- |
- |
Nenhuma ou mínima |
- |
||||
Infecção Sintomática |
- |
- |
Nenhuma ou mínima |
- |
||||
Infecção Assintomática |
- |
- |
- |
- |
||||
Impacto na
neutralização da vacinação completa |
Nenhuma ou mínima |
Nenhuma ou mínima |
Nenhuma ou mínima |
- |
||||
Os dados da OMS também analisam alguns escassos
resultados encontrados para outras cinco vacinas: (i) Novavax-Covavax, (ii) Janssen
Ad26, (iii) Bharat Covaxin, (iv) Anhur ZL-Recombinant and (v) Ganaleya-Sputinik.
Os resultados encontrados ainda que bastante incompletos, podem ser avaliados nos
dados publicados pela OMS em 22 de junho de 2021.
A maior preocupação da OMS, no presente
momento, está relacionada ao crescimento da Variante Delta, mas estudos realizados
no Reino Unido por Lopez Bernal et al (2021)[vi]
sobre os resultados de cursos completos das vacinas Pfizer e AstraZeneca contra
doença sintomática/casos leves de Covid-19 associados a esta variante, revelaram
uma eficácia de 88% e 67%, respectivamente. Outros estudos, realizados por Stowe
et al[vii]
sobre a eficácia do ciclo completo de vacinas contra doença grave (hospitalização)
entre pessoas 16 anos ou mais anos no Reino Unido, mostram uma eficácia da
Pfizer de 96% e 95% em relação as variantes Alfa e Delta, e uma eficácia da
AstraZeneca de 92% e 86% contra estas mesmas variantes, respectivamente. Estudo
realizado na Escócia por Sheikh et al (2021)[viii]
descobriu que duas doses da Pfizer tiveram eficácia de 83% e 79% na proteção contra
doença sintomática (casos leves) e infecção devido a Variante Delta,
respectivamente, entre pessoas de 15 anos ou mais, e de 92% e 92% para a
Variante Alfa, nestes dois tipos de proteção, respectivamente.
As variantes do Covid-19 circulando no Brasil
No Brasil ainda há uma grande escassez de
estudos de sequenciação genética que permitam mapear todas as variantes do
Covid-19 existentes no país. Além do mais, dada sua vasta extensão territorial,
seria difícil ter uma estatística representativa das variantes existentes em
cada Estado para dar um valor que represente a realidade nacional.
Em 16 de junho último, o Instituto Butantã, órgão
de produção de vacinas e estudos sorológicos do Estado de São Paulo, fez um
mapeamento genômico, identificando a presença de 19 variantes do Coronavírus em
circulação entre a população do Estado. A principal variante encontrada foi a
P1, representando 89% dos casos registrados, seguida das variantes B.1.1.7
(4.2%) e B.1.1.28 (3,5%). As demais variantes detêm somente 3,3% dos casos. Até
aquela data não havia confirmação da circulação em São Paulo da variante Delta,
originária da Índia e considerada pela OMS como até 80% mais contagiosa que as
demais. O resultado da pesquisa do Butantã foi baseado na análise de mais
de 4 mil amostras de testes positivos para Covid-19 sequenciados por
laboratórios públicos e privados.
Recentemente, o Brasil tem sido fonte de
preocupação internacional como celeiro de novas variantes do Covid-19. Sendo o
país que atualmente congrega o maior número de casos diários, o Brasil parece
ser atualmente o epicentro da transmissão do Covid-19 ao nível internacional.
Enquanto a maioria dos países parece ter seguido as medidas restritivas para
conter novos surtos pandêmicos, o Brasil tem sofrido para aplicar estratégias
básicas de controle da transmissão, dado que a população não aderiu às mesmas e o
compromisso federal com um processo sustentado de controle da pandemia tem sido, ao longo de boa parte do período pandêmico, negligenciado. Isso tudo, associado ao lento processo de vacinação, poderá levar a continuidade
no aumento da proliferação do vírus e ao surgimento de cepas novas e
modificadas nos próximos meses.
A situação em que o país se encontra em termos
de taxas semanais de contaminação (número de casos) e de morte, mostra um processo
de descontrole e um crescimento do risco pandêmico, ao contrário do que ocorre em
outras partes do mundo. Caso o governo não consiga se comprometer com o aumento
da testagem da população e a compra e entrega rápida de um contingente
substancial de vacinas para acelerar o processo de imunização, a dança das
variantes poderá se perpetuar ainda mais no país.
Notas
[i] Ver https://health.clevelandclinic.org/how-much-of-the-population-will-need-to-be-vaccinated-until-the-pandemic-is-over/.
Esta proporção é
diferente da necessária para a imunização contra a influenza, onde a proporção
de população a ser vacinada para garantir imunidade de rebanho se encontra
entre 33% e 44%.